O quadro de Nello Nuno “Saudade” foi descrito pelo poeta Álvaro Andrade Garcia:
“O quadro era quase todo uma mancha verde. Vários tons dessa cor,
sobrepostos com vigorosas pinceladas, formavam uma gradação que partia da cor
mais escura embaixo à mais clara na parte superior da tela. Dessa forma os
planos ficavam aparentemente confusos. Mas a impressão que se tinha era de que
o primeiro plano continuava por algo que seria uma janela, dando para montanhas
ao fundo. Algumas pinceladas brancas, em forma de retângulos e triângulos,
pareciam indicar uma cidade no canto superior esquerdo. Atrás dela, uma porção
verde-oliva: as montanhas. No canto superior direito, o verde escuro das
porções inferiores dava a impressão de haver algo tenso, inexplicável. Nas
proximidades dessa mancha, um velocípede e uma planta davam um ar de
familiaridade à cena. Finalmente, algumas pinceladas vermelhas no centro da
tela, um pouco à esquerda, formavam algo entre uma grade e as chamas de uma
fogueira. Reunindo o branco e o vermelho, em proporções mínimas, diluídos no
verde, o artista conseguiu transmitir uma estranha sensação de leveza. Ao mesmo
tempo, detalhes como uma fissura ao longo do centro de gravidade da cena ou o
imobilismo do velocípede remetiam o observador atento a um estado de
primitivismo e até mesmo de ausência.”
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