sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Esquecimento


ENSAIOS DE AMOR, Alain de Botton

ESQUECER, PG. 212

“Então, inevitavelmente, eu comecei a esquecer. Poucos meses após romper com ela, descobri-me na área de Londres em que ela havia vivido e reparei que pensar nela não me causava mais tanta agonia, eu até notei que meu primeiro pensamento não era para ela (embora aquelas fosse exatamente suas vizinhanças), mas para o encontro que eu havia marcado com alguém num restaurante nas proximidades. Percebi que a lembrança de Chloe havia se neutralizado e se tornado parte da história. Mas a culpa acompanhava esse esquecimento. Não era mais a ausência dela que me feria, mas a minha crescente indiferença por ela.”

“Aconteceu uma reconquista gradual do eu, novos hábitos foram criados e uma identidade desvinculada de Chloe foi erigida. Minha identidade havia sido por tanto tempo forjada em torno de “nós” que voltar ao “eu” envolveu uma reinvenção quase completa de mim mesmo. Foi preciso um longo tempo para que as centenas de associações que Chloe e eu havíamos acumulado juntos se desvanecessem. Tive que viver com meu sofá por meses antes que a imagem dela deitada nele de camisola fosse substituída por outra imagem, de um amigo lendo um livro nele, ou meu casaco jogado sobre ele... tive que revisitar quase todos os locais físicos, rescrever todos os tópicos de conversação, tocar de novo cada música e repassar cada atividade que ela e eu havíamos compartilhado para reconquistá-las para o presente, para desfigurar suas associações. Mas aos poucos eu me esqueci”.

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