ENSAIOS DE AMOR,
Alain de Botton
ESQUECER, PG. 212
“Então, inevitavelmente, eu comecei a esquecer.
Poucos meses após romper com ela, descobri-me na área de Londres em que ela
havia vivido e reparei que pensar nela não me causava mais tanta agonia, eu até
notei que meu primeiro pensamento não era para ela (embora aquelas fosse
exatamente suas vizinhanças), mas para o encontro que eu havia marcado com
alguém num restaurante nas proximidades. Percebi que a lembrança de Chloe havia
se neutralizado e se tornado parte da história. Mas a culpa acompanhava esse
esquecimento. Não era mais a ausência dela que me feria, mas a minha crescente
indiferença por ela.”
“Aconteceu uma reconquista gradual do eu, novos
hábitos foram criados e uma identidade desvinculada de Chloe foi erigida. Minha
identidade havia sido por tanto tempo forjada em torno de “nós” que voltar ao
“eu” envolveu uma reinvenção quase completa de mim mesmo. Foi preciso um longo
tempo para que as centenas de associações que Chloe e eu havíamos acumulado
juntos se desvanecessem. Tive que viver com meu sofá por meses antes que a
imagem dela deitada nele de camisola fosse substituída por outra imagem, de um
amigo lendo um livro nele, ou meu casaco jogado sobre ele... tive que revisitar
quase todos os locais físicos, rescrever todos os tópicos de conversação, tocar
de novo cada música e repassar cada atividade que ela e eu havíamos
compartilhado para reconquistá-las para o presente, para desfigurar suas
associações. Mas aos poucos eu me esqueci”.
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