(Da série “Como João Guimarães Rosa pode mudar sua vida”,
parte 34)
Cercados
na fazenda, atacados pelos inimigos, o bando se vê perigosamente encurralado.
Zé Bebelo, então chefe do grupo, chama Riobaldo a um aposento e pede que ele
escreva várias cartas a serem enviadas às autoridades das cidades próximas,
comunicando que naquela fazenda estavam muitos cangaceiros em guerra e que essa
era uma ótima ocasião para que os soldados atacassem grande bando de jagunços.
E
Riobaldo teme que Zé Bebelo planeje uma traição. Ele, que já foi do lado do
governo e combateu jagunços, estaria agora planejando, na hora que os soldados
chegassem, se colocar como aquele que conseguiu que o governo matasse e
prendesse tantos jagunços.
Riobaldo
afronta Zé Bebelo com sua desconfiança. Ele explica que pretende aproveitar da
confusão que se dará quando os soldados atacarem o bando que sitia a fazenda
para fugir com todos dali.
Riobaldo
não se convence com a explicação e passa a vigiar Zé Bebelo, na certeza de que
o matará se ele tentar trair a todos.
Mesmo
ferido, Riobaldo mata muitos inimigos. Sua pontaria ganha ainda mais fama.
O
bando de Hermógenes e Ricardão atira nos cavalos, que estavam presos no curral.
Riobaldo e seus colegas ficam horrorizados com isso, que consideram suprema
crueldade. Os cavalos feridos gemem, bufam, agonizam. Mas, para surpresa de
todos, o bando inimigo mesmo se responsabiliza por matar aos animais, acabando
com o sofrimento deles. Todos dão graças a Deus. E Riobaldo, mais uma vez,
percebe que nem mesmo os inimigos são de todo maus.
Os
mortos são muitos e vão sendo amontoados num dos quartos da casa. Os dias
passam, a luta continua, os cadáveres começam a feder.
Mas
finalmente chegam os praças e a batalha entre eles e o bando que cerca a casa
se inicia. E Hermógenes e Ricardão, atacados agora pela polícia, enviam um dos
seus em missão de paz, para negociar.
Ao
saber da proposta de paz dos inimigos, Diadorim fica sombrio. Ele se lembra da
vingança que deseja, e teme que a negociação resulte numa paz que repugna. Tomado
de ódio, ele lembra “do que não deve”. “Ele queria sangue fora das veias”.
“Mas
aí espiei para Diadorim, e ele despertou do que tinha se esquecido, deixado, de
sua mão, que ele retirou da minha outra vez, quase num repelão de repugno. E
ele estava sombrio, os olhos riscados, sombrio em sarro de velhas raivas,
descabelado de vento. Demediu minha ideia: o ódio – é a gente se lembrar do que
não deve-de; amor é a gente querendo achar o que é da gente. – “O palavreado,
destes!”– Diadorim chiou, por detrás dos dentes. Diadorim queria sangues fora
de veias. E eu não concordava com nenhuma tristeza. Só remontei um pasmo e um
consolo expedito; porque a guerra era o constante mexer do sertão, e como com o
vento da seca é que as árvores se entortam mais. Mas, pensar na pessoa que se
ama, é como querer ficar à beira d’água, esperando que o riacho, alguma hora,
pousoso esbarre de correr.”
Riobaldo
estava diverso de Diadorim, não concordando “com nenhuma tristeza. Ele volta a
oscilar no dever de vingar. Sabe, até, que é no ódio e na vingança que eles tiravam
forças: “a força unida da gente mamava era no suscenso da ira. O ódio quase sem
rumo, sem porteira.” Mas sente também que o sentido daquilo tudo vai se
perdendo a cada dia, que a sua soberania vai se distanciando cada vez mais. E vê
que Diadorim não consegue vislumbrar que está aprisionado no ódio. O ódio o
cegava, “O ódio de Diadorim forjava as formas do falso”.
Zé
Bebelo acerta três dias de trégua. Ele “pensava era o útil, o seco, e a pressa”.
Riobaldo estava equivocado, quando pensava que ele poderia trair. Na primeira
noite após o acerto de suspensão de armas Zé Bebelo foge, com o bando todo, escapando
do cerco.
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