(Da
série “Como João Guimarães Rosa pode mudar sua vida”, parte 28)
“Assim
Joca Ramiro era homem de nenhuma pressa. Se abanava com o chapéu. Ao em uma
soberania sem manha de arrocho”(...)
De novo Riobaldo fala da
pressa, tema tão presente em suas reflexões. E diz do grande chefe, do homem
líder muito admirado, Joca Ramiro, homem soberano e sem pressa. Cabe lembrar
algumas reflexões de Julián Marías, filósofo espanhol, em seu livro “Tratado
sobre a convivência”.
“Cada
vez parece mais confirmada minha convicção de que sem uma considerável dose de
bondade se pode ser “esperto”, mas não verdadeiramente inteligente. (...) A
inteligência consiste sobretudo em abrir-se à realidade, deixar que ela penetre
na mente e seja aceita, reconhecida, possuída.(...) Inteligência é compreender
a realidade, o que é diferente de utilizá-la ou manipulá-la.
É
característico do homem inteligente “esperar”, não precipitar-se, deixar que o
que aparece ante seus olhos ou procura penetrar em seus ouvidos se manifeste
por inteiro, exiba seus títulos de justificação, seja examinado por vários
lados, de distintos pontos de vista. Essa é a razão pela qual as mulheres,
quando de fato o são – ou seja, quando são fiéis à sua condição própria -, se
revelam sumamente inteligentes, proporcionalmente mais do que os homens, tantas
vezes apressados.”
Mariás parece fundamentar a
associação entre a ausência de pressa e a soberania. Uma inteligência
propriamente humana seria, nesse sentido, não apressar-se e deixar que a
realidade se manifeste por inteiro. E aí sim, soberanamente, tomar uma direção.
A pressa se aproxima aqui não só do temor, mas também da soberba.
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