"O "viés de
confirmação" é um funcionamento psíquico freqüente (e catastrófico) no
diagnóstico médico, no discurso político e nas brigas de casais. Ele consiste
no seguinte: o sujeito procura ativa e seletivamente (embora de maneira
inconsciente) dados que confirmem sua hipótese ou o seu preconceito iniciais. O
prazer de ter razão prevalece sobre argumentos e informações, produzindo
cegueiras.
Com a pesquisa de
Westen, as neurociências afirmam algo que a psicologia (social e clínica) sabe
há tempo: nosso raciocínio é influenciado por afetos implícitos que nos levam a
"minimizar estados afetivos negativos e potencializar estados afetivos
positivos". A gente pensa e escolhe não no interesse da verdade, mas para
sentir-se bem. O próprio Westen reconhece sua dívida mais antiga: "Freud
descobriu esses processos há décadas, usando o termo "defesa" para
descrever os processos pelos quais as pessoas adaptam seus resultados
cognitivos de maneira a evitar sentimentos desagradáveis como angústia e
culpa".
O que fazer com isso? É possível desistir da verdade, considerando que o mundo
é um vasto teatro em que as subjetividades se enfrentam e que o que importa é
apenas a versão de quem ganha a luta (retórica ou armada). Ou, então, talvez seja possível amparar a verdade, preservá-la de nossas
próprias motivações. Podemos, por exemplo, desconfiar de nossas idéias, sobretudo
quando nos sentimos particularmente satisfeitos com o entendimento da realidade
que elas nos proporcionam. Pois a verdade (com o curso de ação que,
eventualmente, ela "impõe") é geralmente pouco gratificante e de
acesso trabalhoso."
CONTARDO
CALLIGARIS
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