Nil
sapientiae odiosius acumine nimio.
Sêneca,
citado no conto “A Carta Roubada”, de Edgar Alan Poe.
Esta
frase sempre foi por nos traduzida como:
“Nada é mais odioso à sabedoria que um exagerado rigor.”
Mas
no livro “A carta roubada e outras histórias de crime & mistério, da
editora L&M, tradução de William
Lagos, editado em 2003, a mesma frase é traduzida como:
“Nada
é tão prejudicial à sabedoria como a excessiva sagacidade”.
Esta
tradução contém um erro e um acerto. O erro é traduzir odiosius por
prejudicial. Em latin, odiosius significa odioso, desagradável,
importuno, doloroso, funesto. Fica melhor como estava antes, “Nada é mais
odioso `a sabedoria...”.
O
acerto é a tradução de acumine por sagacidade. Em latim, acúmen é
ponta, aguilhão, penetração ou agudeza de espírito, vivacidade ou sutileza. Por
sua vez acúmino é tornar agudo, aguçar.
Já
nimio é muito, demasiadamente, excessivamente.
Assim,
julgo adequada a tradução “Nada é tão odioso à sabedoria como a excessiva
sagacidade”. Esta tradução nos permite pensar que sagacidade aqui possa se associar a esperteza, a tentar ser mais esperto que o mais esperto.
Certa vez um amigo, ao estacionar o carro para ir ao teatro, propôs a uma criança, que pediu para tomar conta, que se ela conseguisse uma calota igual à que ele tinha perdido lhe daria 10 reais. Ao sair da peça vê sua roda com a calota, fica todo feliz, dá o dinheiro ao menino e vai embora pra casa. Em casa, ao dar a volta no veículo, para apagar a luz da garagem, percebe que a criança havia tirado a calota de um dos lados do carro e passado para o outro lado.
Meu amigo, espertinho demais que queria ser, encontrou um menino bem mais espertinho que ele.
Contudo, o termo "exagerado rigor", como era traduzido, é interessante ao associar a frase à seriedade. "Nada é tão odioso à sabedoria como o excessivo rigor" nos permite inferir que a seriedade excessiva nos distancia da sabedoria, do saber viver com gosto e sabor, nos tira a flexibilidade, o humor e a graça, que tanto podem nos ensinar.
Enfim, talvez a tradução devesse mesmo é ficar ao gosto e necessidade de cada qual.
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