(Da série “Como
João Guimarães Rosa pode mudar sua vida”, parte 25).
E
Diadorim finalmente reaparece.
“Demorei
bom estado, sozinho, em beira d’água, escutei o fife dum pássaro: sabiá ou
saci. De repente, dei fé, e avistei: era Diadorim que chegando, ele já parava
perto de mim. Ele mesmo me disse, com o sorriso sentido:
–
“Como passou, Riobaldo? Não está contente por me ver?”
A boa
surpresa, Diadorim vindo feito um milagre alvo. Ao que, pela pancada do meu
coração.”
Riobaldo
fica feliz, é um milagre que toca seu coração. Mas se contém, e começa a
desconfiar.
“Aí,
mas um resto de dúvida: a inteira dúvida, que me embaraçava real, em a minha
satisfação. Eu era o que tinha, ele o que devia. Retente, então, permaneci; não
fiz mostra nenhuma. Esperei as primeiras palavras dele. Mais falasse; retardei,
limpei a goela.
– “A
pois. Por onde andou, se mal pergunto?” – aí falei. Aquela amizade pontual,
escolhida para toda a vida, dita a minha nos grandes olhos...”
Diadorim
não se abala com a paranoia de Riobaldo. E ele não teme, nada fez de errado. E
age naturalmente.
“–
“Você também não está bom de saúde, Riobaldo, estou vendo. Você derradeiramente
não tem passado bem?”
–
“Vivendo minha sorte, com lutas e guerras!”
Ao que
Diadorim me deu a mão, que malamal aceitei. E ele disse de contar. Segundo
tinha procurado aqueles dias sozinho, recolhido nas brenhas, para se tratar dum
ferimento, tiro que pegara na perna dele, perto do joelho, sido só de raspão.”
Riobaldo
permanece desconfiado, suspeitando.
“Menos
entendi. A real que estando ofendido, por que era que não havia de vir para o
meio da gente, para receber ajuda e ter melhor cura? Doente não foge para um
recanto, ou mato, solitário consigo, feito bicho faz. Aquilo podia não ser
verdade? Afiguro, aí bem que criei suspeitas: aonde Diadorim não teria andado
ido, e que feia ação para aprontar, com parte na fingida estória?”
Mas
Riobaldo não consegue não acreditar. A naturalidade e cordialidade
(cordialidade aqui no seu sentido original: cordos, no latim, coração. Cordial
é aquele que age com o coração, natural, verdadeiramente espontâneo) se impõe e
a verdade penetra em Riobaldo, até então tentando manter-se impermeável.
“As
incertezas que tive, que não tive. Assaz ele falava assim afetuoso, tão sem
outras asas; e os olhos, de ver e de mostrar, de querer bem, não consentiam de
quadrar nenhum disfarce. Magro ele estava, quasso, empalidecido muito, até
ainda um pouco mancava. Que vida penosa não era capaz de ter levado, tantos
dias, sem o auxílio de ninguém, tratando o machucado com emplastros de raízes e
folhas, comendo o quê? Assunto de fome e toda sorte de míngua devia de ter
penado. E de repente eu estava gostando dele, num descomum, gostando ainda mais
do que antes, com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu
tinha gostado. Amor que amei – daí então acreditei. A pois, o que sempre não é
assim?
Além
do que era sazão de sentimento sereno: arte que a vida mais regateia. A vida
não dá demora em nada. Nos seguintes, logo tornamos para tornar em guerra, com
assanhamentos. De formas que perdi o semelhar de tantos manejos e movimentos e
a certa razão das ordens que a gente cumpria. Mas fui me endurecendo às
pressas, no fazer meu particípio de jagunço, fiquei caminhadiço. Agora eu tinha
Diadorim assim perto de afeto, o que ainda valia mais no meio desses perigos de
fato. Sendo que a sorte também prevalecia do nosso lado, aí vi: a morte é para
os que morrem. Será?”
Nas
situações onde a comunicação encontra-se obstruída ou parece direcionar-se para
o conflito, três atitudes são encontradas.
A
primeira é chamada de atitude passivo-agressiva. Nesta o medo do conflito
impera e todos os esforços são no sentido de evitá-lo. Mente-se, combinam-se
coisas que se sabe de antemão que não serão feitas, fala-se mal por trás, mas
pela frente em tudo se concorda, mas nada do acordado será feito. É, de longe,
a atitude mais comum. Cerca de 80% das pessoas portam-se desta forma.
A
segunda é a atitude agressiva. Essas pessoas podem até comportar-se de maneira
passivo-agressiva inicialmente, mas logo perdem a cabeça e partem para o
ataque. Xingam, esbravejam ou se retiram de maneira afrontosa. Há o senso comum
de que os agressivos pelo menos “botam para fora” e por isso se desgastariam
menos que os passivo-agressivos, que engolem qualquer coisa pra evitar um
desentendimento. Ledo engano. Os índices de estresse e até de ataques cardíacos
dos dois grupos são semelhantes. De 10 a 15 % das pessoas pertencem a esse
grupo.
Esses
dois tipos anteriores normalmente não conseguem desobstruir a comunicação.
Por
fim, há a terceira atitude, os assertivos. Normalmente começam a tentar
comunicar com um elogio verdadeiro, ressaltando algum aspecto positivo do
interlocutor ou da relação. Em seguida falam da dificuldade em questão, de
maneira clara e precisa, sem procurar culpados pelo problema, mas sim
procurando saídas e soluções. O núcleo dessa comunicação, apesar de se
caracterizar pela precisão nos argumentos, é emocional. É emocional no gestual
do elogio verdadeiro: o olhar, o tom de voz, os gestos e atitudes, tal como na
estória anterior de Diadorim, não deixam dúvidas que se está falando a verdade.
Mas também costuma ser emocional no
conteúdo, quem comunica de maneira assertiva costuma dizer o que está sentindo
no momento. Talvez o faça intuitivamente, sabendo que não cabe contestação
quando dizemos que nos sentimos tristes ou frustrados frente a tal situação. Os
assertivos não costumam passar de 5% das pessoas.
Mas
a boa notícia é que se pode aprender a ser assertivo.
Eu
chamava a comunicação assertiva, antes de descobrir esse conceito, de
comunicação surpreendente. O interlocutor espera que venha um inimigo e esse
não aparece. E nessa surpresa a brecha comunicativa acaba por se revelar.
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