domingo, 3 de junho de 2012

Lúcio Cardoso - Crônica da casa assassinada



“- O diabo, minha filha, não é como você imagina. Não significa a desordem, mas a certeza e a calma.

- Que é que você imagina como uma casa dominada pelo poder do mal? É uma construção assim, firme nos seus alicerces, segura de suas tradições, consciente da responsabilidade de seu nome.

- É o que poderíamos chamar de um lar solidamente erguido neste mundo. Não há nele, de tão definitivo, nenhuma fenda por onde se desvende o céu.

- Muitas vezes em dias passados, imaginei o que poderia tornar essa casa tão fria, tão sem alma. E foi aí que descobri a terrível imutabilidade de suas paredes, a gelada tranqüilidade das pessoas que habitam nela. Ah, minha amiga, pode acreditar em mim, nada existe de mais diabólico do que a certeza. Não há nela nenhum lugar para o amor.”

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