É muito interessante comparar a
etimologia da palavra humildade com a etimologia da palavra humano.
Humildade vem do latim humilìtas,átis
, que significa de pouca elevação, de pequena estatura. Humano se origina a partir da palavra
latina humánus,a,um, que indica o que é próprio do
homem.
Os dois vocábulos têm em comum o
prefixo HUM, do latim húmus,
significa terra, solo. Humilde nesse sentido indica o que permanece na terra,
não se eleva da terra, aquilo que é humilde, de baixa estatura e por isso mesmo
próximo ao solo. E Humano indica por sua vez habitante da terra, por oposição
primeiro aos deuses, depois aos outros seres.
É de se notar que as duas palavras,
humilde e humano, têm a mesma cognação, ou seja, vem de uma mesma raiz. Isso
sugere uma íntima correlação entre os termos. Poderíamos então imaginar, em
virtude desta correlação, que humano e humilde são termos irmãos. E poderíamos
até nos arriscar a dizer que seria próprio do humano a humildade, o saber-se
próximo do chão, o saber-se finito e limitado. O ser humano seria assim um ser
de aprendizagem, um ser que se constitui na aprendizagem durante toda a sua
vida, nunca chegando a estar pronto.
Mas negamos essa condição de humanos
aprendizes, e almejando a perfeição - perfeição esta inumana por definição -
vivemos numa busca desesperada do sucesso, do não falhar, do chegar, ver e
vencer absolutos. E assim vivemos com pressa, medo e desesperança.
Há autores que consideram a saudade
como sendo decorrente de projetos vitais interrompidos, um tipo de paralisação
no passado, pela não realização de algo que era vital para o sujeito. Nesse
contexto a pressa não seria um tipo de saudade prospectiva, uma saudade do
futuro?
Assim como a nostalgia é a saudade do
passado, a ansiedade é a saudade do presente e a pressa é a saudade do futuro.
Temos saudade do passado quando
poderíamos ter feito algo naquele tempo, e era muito importante que ao menos
tentássemos, mas não o fizemos e então paralisamos, nostálgicos. Ter saudade do
futuro, por seu lado, seria decorrente da pressa, do imediatismo de querer
chegar ao sucesso futuro antes mesmo que o futuro chegue. O medo de falhar e a
vontade de certeza absoluta diante do futuro nos jogam em um estado de pressa,
e acabamos aprisionados no futuro, pensando sempre no futuro no afã de
conseguir certeza sobre a realização de nossos projetos. E acabamos vivendo de
forma provisória, descolados do presente, descolados do que seria possível que
fizéssemos já, descolados daquilo que já está ao alcance da nossa mão, de cada
pequeno passo que poderíamos dar na nossa auto-construção, com calma e
confiança, no desejo de se preparar para o futuro que virá.
A nostalgia, a saudade do passado,
teria assim um vazio em si, daquilo que poderia ter sido e que não foi. A
pressa, a saudade do futuro, teria o vazio da ansiedade, daquele que nem vive o
seu presente, pois está em aflito e paralisado pelo medo do que virá, nem
constrói o seu futuro, pois se precipita na pressa e no imediatismo.
Para nos liberarmos das amarras da
pressa, a estereotipia de nossos dias, é preciso parar e pensar. Não temer a
tomada de consciência do mal que nos cabe, considerar a própria experiência e
ter os olhos abertos para ver a realidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário