quinta-feira, 10 de maio de 2012
INVEJA - trecho
A inveja também é verde, mas de um verde acinzentado e escuro. Cobras atacam seu coração marrom, como dito antes, tom do conservadorismo, do fanatismo e da obstinação. A inveja parece ter um chocalho (ou seria uma coroa?) na mão. Essencialmente dividida, a inveja vai para um lado e olha para o outro. E é a única com a boca arregalada, que poderia ser de pânico, mas o restante da expressão de seu rosto e de seu corpo não parece indicar isto. Resta então a essa boca arregalada ser uma boca famulenta, insaciável. No quadro somente a inocência e a inveja possuem “unhas-garras”.
Virada para a esquerda a inveja parece sugerir que vai adiante, mas a posição de suas pernas é ambígua. Pode indicar movimento para frente, recuo para trás, ou mesmo que está parada apoiada sobre seu pé direito. A sensação é de que na verdade a inveja está imobilizada, olhando para trás, numa espécie de saudade. Seus olhos são vermelhos, assim como os olhos da máscara da má fé e do sarcasmo.
O olhar tem particular importância no caso da inveja. Podemos ter inveja de coisas tangíveis, do dinheiro alheio, da beleza física ou da juventude de outras pessoas. Mas a inveja mais dura, mais visceral, é a inveja do brilho no olhar, a inveja da sensação que o outro pode produzir em nós de que ele é verdadeiramente feliz. Dinheiro ou beleza física podemos tentar conquistar. Mas como conseguir a graça e a felicidade quando nem mesmo acreditamos que elas existem? Como tomar do outro o brilho do seu olhar, a sua vitalidade? Se estivermos de fato vitalizados nem mesmo o olhar mais invejoso é capaz de tirar de nós a graça. A inveja acaba por ser uma forma de desesperança, uma crença de que estamos condenados à infelicidade e que a graça e a vitalidade são ilusões pueris.
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