quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

39. E Riobaldo vira o novo chefe do bando

 

(Da série “Como João Guimarães Rosa pode mudar sua vida”, parte 39)


Depois da encruzilhada Riobaldo está diferente e impõe respeito. Ele resolve, passando por cima da autoridade de Zé Bebelo, mandar alguém comprar remédios para os doentes do bando. E fica enjoado com a inatividade do grupo.

“Eu tinha enjôo de toda pasmacez.”

E começa a sugerir planos a Zé Bebelo, que se infiltre um colega no bando rival, para espionar ou até matar o Hermógenes. E ficar irritado se qualquer um conteste suas ideias.

Diadorim estranha os novos modos de Riobaldo, que repele qualquer um que pareça contestar suas ideias.

E agora, quando Diadorim ameaça fraquejar no dever da vingança, perguntando:

– “Nós dois, Riobaldo, a gente, você e eu... Por que é que separação é dever tão forte?...”

Riobaldo relembra a ele o seu mandado de ódio ao dizer:

– “Aquele, hora destas, deve de andar lá por entre oUrucuia e o Pardo... O Hermógenes...”

A provocação surte efeito e Diadorim acinzenta a expressão e retoma o ódio. Riobaldo fica feliz.

Como era que era: o único homem que a coragem dele nunca piscava; e que, por isso, foi o único cuja toda coragem às vezes eu invejei. Aquilo era de chumbo e ferro.

Como já dissemos em postagem anterior, Diadorim não era corajoso. Era valente. Pois faltava a ele o medo que dá a prudência necessária para que a coragem se manifeste.

E Riobaldo começa a declarar a todos os erros que eles haviam cometido, sob a liderança de Zé Bebelo. Que enquanto esperavam a doença passar já deviam ter mandado gente providenciar munição. Zé Bebelo reconhece o erro e o justifica pelo fato deles terem perdido a rota.

Riobaldo ganho um cavalo de Seu Habão, um maravilhoso animal. E manda – quando vê já tinha mandado – um colega cuidar do animal.

No dia seguinte chegam João Goanhá, com mais uns dez cabras que já tinham sido do bando.

E Riobaldo do nada pergunta a todos:

- “Ah, agora quem aqui é que é o Chefe?”

Só perguntei. Sei por quê? Só por saber, e quem-sabe por excessos daquela minha mania derradeira, de me comparecer com as doidivãs bestagens, parlapatal. De forma nenhuma eu não queria afrontar ninguém. Até com preguiça eu estava. A verdade, porém, que um tinha de ser o chefe. Zé Bebelo ou João Goanhá.

Um para o outro olharam.

- “Agora quem é que é o Chefe?”

Ninguém responde e ele pergunta mais uma vez. E ninguém fala nada. E pergunta de novo e ninguém responde de novo. Porque...

E eu – ah – eu era quem menos sabia – porque o Chefe já era eu. O Chefe era eu mesmo! Olharam para mim.

E pergunta de novo, ainda...

E com os companheiros todos já em volta dois parecem desgostar do que está acontecendo.

O Rasga-em-Baixo que, pelo visto, era um inimigo oculto de Riobaldo, resolve bulir em suas armas e Riobaldo o mata, tiro justo, na hora. E o irmão dele, José Félix treme frente a morte do irmão e já levou tiro também.

E Riobaldo pergunta ainda mais uma vez quem é o chefe.

Todos estão quietos.

Diadorim se aproxima de Riobaldo. Outros também vão formando ao seu lado.

João Goanhá sorri para Riobaldo e Zé Bebelo sacode os ombros.

Riobaldo ainda pergunta a Zé Bebelo, mais três vezes, quem é o chefe. No final ele fala que é Riobaldo mesmo.

E todos os companheiros veem cumprimentar o novo chefe do bando.

Zé Bebelo se despede, diz que não nasceu para ser chefiado. E batiza o novo chefe de todos.

- “Mas, você é o outro homem, você revira o sertão... Tu é terrível, que nem um urutu branco...”

O nome que ele me dava, era um nome, rebatismo desse nome, meu. Os todos ouviram, romperam em risos. Contanto que logo gritavam, entusiasmados: - “O Urutu-Branco! Ei, o Urutu-Branco!...”

Nasceu Urutu-branco, o chefe que não teme. Morreu Riobaldo, o menino temor. E o preço será pago mais tarde, com Riobaldo perdendo o seu amor maior.

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