Ele estava apaixonado. Que menina linda. Que menina
legal. Tem tudo a ver com ele. O dia foi maravilhoso. O clima, perfeito. E ela
também gostou, postou que teve um dia divino.
Mas tá demorando um pouco para responder as mensagens.
Ele se pergunta se exagerou no entusiasmo, se ela ficou assustada... E agora,
que ele disse claramente que quer vê-la novamente, ela ainda não respondeu... e
já se passaram 2 dias...
Já tava quase fazendo uma besteira, mandando uma mensagem
grosseira, terminando o que nem tinha começado direito.
O amigo então o chama pra sair e pegar umas meninas. O
amigo está magoado depois que sua namorada de anos terminou com ele. E é seu
melhor amigo. Eles saem e ele quase fica com uma menina. Tava meio tonto e ela
era muito bonita... e a outra ainda sem responder se vai sair com ele ou não. Não
estava mesmo a fim, estava com a outra na cabeça. Mas ela não respondeu...
E não é que quando ele volta pra casa vê a mensagem da
menina marcando um encontro no domingo?
Contei pra ele a piada do macaco.
O cara dirigia por uma estradinha de terra quando o pneu
do carro furou. Era noite. Ele abriu o porta-malas para pegar o macaco e lembrou-se
que o tinha esquecido em casa. Desesperou-se, estava no fim do mundo, de noite,
sem macaco, como iria fazer? Foi quando enxergou uma luzinha longe, olhou com
cuidado e viu que era uma casinha. “Que sorte! Uma casinha aqui! Eles devem ter
um carro e aí vão poder me emprestar o macaco.” E foi andando em direção a
casinha. Chegando mais perto viu a garagem. “Beleza, tem carro mesmo, que
sorte!” Andou mais um pouco. “É, deve ter carro, mas já tá de noite, né? E o
povo na roça dorme cedo.” Andou mais. “É, e esse cara deve ter família, ia
morar na roça sozinho? Tem família e tá de noite...” Andou mais um pouco. “É... ele deve ter filhos, filhos pequenos...”
Andou mais um tiquinho... “É, deve ter filha também... e tá de noite, e chega
um desconhecido, do nada... “ E foi andando ... “Eu não ia gostar nem um pouco disso, chega um
desconhecido na minha casa, sei lá quem é? E pode ameaçar minha família, e pode
ameaçar minha filha”... E foi andando e pensando, andando e pensando, e mais, e
mais um pouco... Até que chegou a casa, bateu e pouco depois um senhor abriu a
porta.
- Pois não?
- Você pega esse macaco e enfia no onde você quiser!
E o homem nem sabia se era um mico, um chipanzé...
Se ele tivesse brigado com a menina antes mesmo de
perguntar pra ela o porquê da demora teria precipitado justamente o que ele
mais temia.
Na sociologia existe o conceito de profecia
auto-realizável. Um banqueiro faz uma
oferta pra comprar um banco. Os proprietários recusam a oferta. O banqueiro
articula então um boato que o banco está mal, perto da falência. É mentira, o
banco está muito bem. Mas se o boato pega, todos correm pra tirar o dinheiro e
o banco quebra. Ai o banqueiro diz “Tá vendo? Não falei que o banco estava
mal?” O banco estava bem. Mas esse tipo de profecia é auto-realizável. Se pega,
faz a si mesmo acontecer.
Outro exemplo: Alguém tem certeza que não dá para
matemática. Chegam as provas e ela não estuda matemática como estuda as outras
matérias. Quando saem os resultados vai mal em matemática. E confirma: “tá vendo,
não consigo aprender matemática...” Mas ela nem estudou direito.
Um terceiro e muito frequente exemplo: uma pessoa não
acredita que é amável, não concebe que pode ser amada por alguém. Ao estar com
alguém tem sempre a certeza ou de que será abandonada, ou que será traída, ou
ambos. E que isso é só uma questão de tempo. Essa infeliz criatura, tão
semelhante a todos nós em alguns momentos, inferniza tanto seus parceiros
amorosos com essas certezas que acaba realmente só. E diz, então: “Tá vendo? Eu
tinha certeza que ele iria me abandonar, e estava certa!
Não. Ela estava errada. Mas a profecia auto-realizável
tem o poder de se fazer realizar. Ela prova que, em se tratando de psicologia, problemas falsos podem gera consequências verdadeiras. Nem sempre geram. Mas
que podem, podem.
Foi muito bom o rapaz
apaixonado lá de cima ter mantido a calma possível, ter esperado um pouco.
Guimarães Rosa já mostrou a ligação entre o medo e a pressa no seu livro
Sagarana, dizendo “Pior, pior... Começamos a olhar o medo... o medo grande... e a
pressa... O medo é uma pressa que vem de todos os lados, uma pressa sem
caminho...” E depois, no se livro Grande Sertão: Veredas mostrou a relação
entre o medo e seu anagrama, o demo. E eu mesmo completo dizendo que o medo, a
pressa, o demo e ainda a saudade são da mesma turma. Quando convidamos um pra
sair acaba indo todo mundo junto. E é bem difícil conviver com essa turminha.
Um comentário:
Perfeita avaliação amigo, custei para aprender que a paciência é melhor que a ansiedade, o otimismo que o pessimismo e que o medo mata nossos ideais.
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