Quanto
atentos estamos ao mais singelo aspecto ao nosso redor?
Essa
rachadura na parede à nossa frente será, provavelmente, consertada em tempo.
Mas mesmo que não o fosse, mesmo que tudo aqui ruísse, ainda assim, sobre as
pedras que sobrassem, musgos, capim, moitas e, depois, árvores, viriam,
transformando e recriando esse lugar.
Esse
menino esteve doente outro dia. Mas a febre passou e ele voltou a comer melhor.
Já está crescendo de novo.
Mesmo
após um tsunami, após a explosão de um vulcão, ou um terremoto, ou guerras
terríveis, mesmo após isso tudo, a vida volta.
Será
se precisaríamos passar por enorme apuro para, somente então, conseguirmos
vislumbrar as janelas, portas e frestas abertas?
Quando
biófilos conseguimos ver melhor.
Parece
que temos a necessidade de projetos duradouros, por nossa sede de
permanência. O trabalho nos tomará muitos anos. Os filhos, se os tivermos, mais
tantos. Mas um dia estaremos aposentados e nossos filhos estarão cuidando da
vida deles (e isso nos fará felizes). Nosso conjugue poderá demorar mais que os
outros dois. Mas um dia também poderá nos deixar. Contudo, os três, como
tudo que é vivo, seguirão seu curso, afirmando cada qual a sua finitude. Nós
também.
O
amor à vida não seria, pois, o afeiçoar-se a esses processos, essas jornadas? A
esperança - belo sinal da presença biófila - não seria também algo semelhante?
Um saber-se finito e a caminho dessa finitude, e permanecer caminhando,
intuindo que é nesse caminhar que permanecemos, mesmo se formos?
É
como Miguilim descobrindo a beleza do mundo pouco depois de perder seu
irmãozinho, o Dito.
O
amor à vida é como o capim agora verdinho, que depois de meses de seca, acaba
de ver chuva. É como a cadelinha sumida do sítio que reaparece cheia de
cachorrinhos. É como aquela pessoa arrasada por meses depois de um
término de um amor que conhece alguém muito legal e se vê com os olhos
brilhando. É como a cidade depois da enchente que começa a se limpar, tirar a
lama, se assemelhando ao que era antes. O amor a vida se parece com a pessoa
magoada, triste por pensar que nunca recuperaria aquela amizade e que se
assusta ao perceber que já conversa com o amigo, esquecendo-se, ao menos por
momentos, do rancor. Se parece com um filho inesperado para um casamento até
então infértil, ou com um casamento sem filhos que descobre outros frutos
gerados. Ou com um neném boquiaberto ao ir descobrindo o mundo. Ou com uma
criança às vésperas do natal. O amor à vida é como um caderno novo no primeiro
dia de aula. É uma aposta, de carta marcada, na beleza, bondade e sentido da
vida.
O
amor à vida está ao alcance de nossas mãos. Já. Agora. Se olharmos
verdadeiramente o mundo.
O
amor à vida é um bom remédio para a saudade.
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