"A
violência não precisa de razões, sabe encontrá-las excelentes quando quer se
desencadear. Entretanto essas razões, por boas que sejam, não merecem jamais
serem levadas a sério. A violência busca, e sempre acaba por encontrar, uma
vítima, e a trocará por outra sem qualquer razão, exceto ser vulnerável e estar
ao alcance da mão.
A
escolha da vítima não deve ser definida em termos de culpa ou inocência. Não há
o que expiar. A sociedade desvia para uma vítima relativamente indiferente,
desde sacrificável, uma violência que ameaça ferir seus membros e que ela
pretende proteger a qualquer preço.
A
vítima não substitui apenas um indivíduo especialmente ameaçado, e não é
oferecida a tal ou qual indivíduo, especialmente sanguinário, substitui e se
oferece ao mesmo tempo a todos os membros da sociedade por todos os membros da
sociedade. É à comunidade inteira que o sacrifício protege de sua própria
violência e hostilidade desviando-a para vítimas que lhe são “exteriores”.
Há
um denominador comum a toda situação de substituição sacrificial - a violência
e hostilidade intestinas. São as dissensões (divergência, desavença e oposição),
as rivalidades, o ciúme, a inveja, as disputas que o sacrifício pretende antes
de tudo eliminar restaurando a harmonia da comunidade e reforçando a unidade
social e conservando a prosperidade material.
O
sacrifício tem a função de apaziguar as violências intestinas e impedir que
estalem os conflitos.
A
lista das vítimas é bastante heterogênea. Tal diversidade apresenta, entretanto
um critério comum, em primeiro lugar são seres que não pertencem, ou pertencem
muito pouco à sociedade. São pessoas exteriores ou marginais, às vezes por sua
qualidade de estrangeiro, de inimigo ou de recém-chegado, pela idade ou pela
condição servil.
Outro
determinante na escolha das vítimas é a necessidade de evitar a vingança. O
desejo de violência se dirige aos próximos, porém não pode satisfazer-se sobre
eles sem provocar todo tipo de conflito; convém, pois desviá-lo para uma vítima
sacrificial que se possa ferir sem perigo, pois não haverá ninguém para
defender a sua causa."
fonte:
La violência e lo sagrado
René Girard – Seleção e tradução minhas.
René Girard – Seleção e tradução minhas.
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