terça-feira, 11 de setembro de 2012

Violência: As relações entre o sacrifício e a violência - Os bodes expiatórios



"A violência não precisa de razões, sabe encontrá-las excelentes quando quer se desencadear. Entretanto essas razões, por boas que sejam, não merecem jamais serem levadas a sério. A violência busca, e sempre acaba por encontrar, uma vítima, e a trocará por outra sem qualquer razão, exceto ser vulnerável e estar ao alcance da mão.

A escolha da vítima não deve ser definida em termos de culpa ou inocência. Não há o que expiar. A sociedade desvia para uma vítima relativamente indiferente, desde sacrificável, uma violência que ameaça ferir seus membros e que ela pretende proteger a qualquer preço.

A vítima não substitui apenas um indivíduo especialmente ameaçado, e não é oferecida a tal ou qual indivíduo, especialmente sanguinário, substitui e se oferece ao mesmo tempo a todos os membros da sociedade por todos os membros da sociedade. É à comunidade inteira que o sacrifício protege de sua própria violência e hostilidade desviando-a para vítimas que lhe são “exteriores”.

Há um denominador comum a toda situação de substituição sacrificial - a violência e hostilidade intestinas. São as dissensões (divergência, desavença e oposição), as rivalidades, o ciúme, a inveja, as disputas que o sacrifício pretende antes de tudo eliminar restaurando a harmonia da comunidade e reforçando a unidade social e conservando a prosperidade material.

O sacrifício tem a função de apaziguar as violências intestinas e impedir que estalem os conflitos.

A lista das vítimas é bastante heterogênea. Tal diversidade apresenta, entretanto um critério comum, em primeiro lugar são seres que não pertencem, ou pertencem muito pouco à sociedade. São pessoas exteriores ou marginais, às vezes por sua qualidade de estrangeiro, de inimigo ou de recém-chegado, pela idade ou pela condição servil.

Outro determinante na escolha das vítimas é a necessidade de evitar a vingança. O desejo de violência se dirige aos próximos, porém não pode satisfazer-se sobre eles sem provocar todo tipo de conflito; convém, pois desviá-lo para uma vítima sacrificial que se possa ferir sem perigo, pois não haverá ninguém para defender a sua causa."

fonte:
La violência e lo sagrado 
René Girard – Seleção e tradução minhas.

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