terça-feira, 7 de agosto de 2012

E Riobaldo diz da dificuldade de ser bom:

(Da série "Como João Guimarães Rosa pode mudar sua vida", parte3)

“Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado.”
(GSV, Pg. 16)

Durante muitos anos perguntei, em atendimentos psicoterápicos, quem poderia enumerar 3 pessoas que fossem boas e não fossem bobas. Via de regra a maioria das pessoas encontrava muita dificuldade de citar as 3 pessoas. Citavam, mas, ao pensar um pouco melhor, acabavam por descobrir que as pessoas em questão podiam até serem boas, mas também eram bobas, inocentes, de algum modo eram manipuladas em sua suposta bondade.

E nestes anos todos somente 3 pessoas se incluíram na lista dos que eram bons e não eram bobos. E seria de se esperar que muitos o fizessem, uma vez que ser bom é um valor que quase todos almejam. O fato disso não acontecer indica a confusão geral que se faz entre ser bom e ser bobo, ou seja, como os conceitos de bom e bobo estão misturados nas nossas cabeças.

Não é fácil ser bom. A maior parte das vezes quando achamos que estamos sendo bons na verdade estamos fazendo o bem, estamos sendo benfeitores. Podemos iniciar a diferenciação entre esses dois conceitos contrapondo a gratuidade da bondade, que não espera nada em troca, do caráter manipulativo de fazer o bem, onde se espera que o outro fique devendo um favor e fique assim aprisionado em mim, devendo alguma forma de gratidão.

Diante destas colocações fica evidente a importância da passagem bíblica: “...sejais sábios no bem, mas simples no mal.” Romanos, 16:19 No tocante ao mal é simples: se alguém quer lhe fazer o mal, fuja, corra, pique a mula. Mas e diante do bem? É preciso sabedoria. Será se esta pessoa quer fazer o bem ou é de fato boa? Será se eu estou sendo bom ou fazendo o bem?

Neste sentido disse Confúncio: “A maior ofensa que podemos fazer a um amigo é prestar-lhe um favor e o maior dos revides é a ingratidão”.

Uma amiga me lembrou de uma música muito apropriada.





A pessoa que é realmente boa se admira, cuida de si mesmo, se respeita, se revela, se transforma, se autonomiza. E como consegue ser assim para si mesma pode ser da mesma forma para o outro. A pessoa que é realmente boa quase sempre é chamada de egoísta, porque não faz o bem, não privilegia as cumplicidades e não se sente presa a gratidões alheias. Mas, ao ser chamada de egoísta, uma pessoa que é boa não se abala, pois sabe-se, e não tem medo de parecer egoísta. A pessoa que é boa é serena, é inquieta e esperançosa diante das incertezas da vida.

A pessoa que faz o bem é ansiosa, agitada e aflita, na ânsia de salvar o outro para provar seu valor.

Ou seja, nas palavras de Rabindranath Tagore, no seu texto Pássaros Perdidos: “Quem se ocupa demasiado em fazer o bem não dispõe de tempo para ser bom.”

Ou, se alguém quer realmente ser bom basta seguir a sugestão de Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres”. 

2 comentários:

Nello Rangel disse...

...Me fez lembrar uma música do Chico Buarque ("Injuriado"): ..."Se eu só lhe fizesse o bem, talvez fosse um vício a mais; Você me teria desprezo, por fim. Porém não fui tão imprudente e agora não há, francamente, motivo pra você me injuriar assim; Dinheiro não lhe emprestei, favores nunca lhe fiz, não alimentei o seu gênio ruim... Você nada está me devendo, por isso, meu bem, não entendo, Porque anda agora falando de mim!!!"... (Rss) Bjs
Comentário de minha amiga, Beth Homem

Lucas Duarte disse...

Muito bom o texto Nello, admirável.
Parabéns pelo blog.