sexta-feira, 22 de junho de 2012

David Cooper: Nóia

Metanóia:  Significa mudança a partir das profundidades do ser até as superfícies da aparência social. Inclui muito da noção de conversão e arrependimento em São Paulo e, particularmente ao nível da segunda metanóia, gera os sinais de depressão e de pesar.

Eknóia:  É o estado normal do cidadão bem condicionado, eternamente obediente. É um estado de ser no qual o indivíduo encontra-se tão alheio a todas as facetas da sua própria experiência pessoal - alheio a todo impulso espontâneo para a ação; alheio à mais elementar consciência do próprio corpo para si mesmo, e não como objeto para ser inspecionado pelos outros no mundo; alheio a todas as possibilidades cuidadosamente recusadas de suscitar mudanças; tão alienado, enfim, que poderia realmente, e sem qualquer exagero metafórico, considerar este indivíduo como estando fora de si. A maioria das pessoas submete-se a este assassinato crônico do self com apenas um fraco murmúrio de resistência, rapidamente esquecida. Como é evidente, a compensação por se estar assim fora de si é considerável: pode-se ficar rico, ou no mínimo, abastado; pode-se dirigir uma grande empresa ou um grande estado... pensando bem, não há nada melhor do que estar fora de si. Tampouco nada que se iguale à perda acarretada.  

Paranóia:  Se está ao lado do próprio self. Se a eknóia significa estar fora de si, na paranóia pelo menos está-se próximo de si. É uma proximidade do self, que pode tornar-se afetuosa. É o começo da existência ativa. Sem dúvida, há muita confusão entre fantasia persecutória e realidade persecutória.  

Nóia: Representa trabalho com o próprio self que nos leva à auto-consistência, a estar em nós mesmos, vivendo como pessoa distinta das outras pessoas na solidão não solitária que se abre para o mundo. Nestas circunstancias, o indivíduo se enche de coragem, cria animo novo e se arrisca a enfrentar qualquer experiência nova no âmbito da relação de si consigo mesmo, tornando-se livre para permitir um fluir generoso do seu self para o mundo. É o estágio da conquista da autonomia do próprio self.

Anóia:  O sujeito está pronto para abrir mão do senso do self, de ser restrito a um ego finito. Transcendência. Já não importam mais “estados de ser” e nem a ilusória segurança que tais estados representam.

Há muita margem para confusão na localização relativa destes estágios. A mais desastrosa é a tentativa do indivíduo passar da eknóia ou da paranóia para a anóia, sem a imprescindível conquista da autonomia do próprio self. O uso de drogas psicodélicas e as certas crises psicóticas representam tais tentativas.

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