domingo, 2 de agosto de 2015


- Parabéns, mãe!
- Obrigado...
- Tudo de bom! Muitas felicidades!!
- Obrigado...
- Credo, Mãe... Que voz é essa? É o seu aniversário!
- Ah, sei não... To meio triste, meio chateada. Acho que com a minha idade. É... To com a sensação de que o meu corpo já não acompanha meu espírito...
- “O espírito só tem uma idade: ou se é sempre jovem, ou não é espírito. Tudo o mais é arquivo e reminiscências”.
- Uai, gostei disso! De quem que é?
- Anibal Machado. Legal né? Não sei o que você acha, mãe, mas a impressão que tenho é que já deve ter pra mais de 25 anos que eu não lhe vejo tão interessada na vida, tão envolvida com suas coisas... Até mais firme, reivindicando mais o que quer e o que não quer, você está.
- É verdade...
- Lembro-me que, mais de 20 anos atrás, logo após sua separação, você dizia, ainda aos 40 e poucos anos, que não queria mais saber de homem. “Homem só serve pra querer mandar na gente, querer controlar a vida da gente. Agora vou cuidar do meu trabalho e da minha família”. Acho que você levou bem a sério essa determinação, não?
- Levei sim.
- Pois é. E agora esta até arrumando namorado. E trabalhando, fazendo suas coisas... Não sei, mãe, quando foi a última época de sua vida que lhe vi tão animada.
- É verdade, filho. Mas também é verdade que meu corpo já não é o mesmo.
- É sim, mãe. Nem o seu, nem o meu. Eu preferiria ainda ter cabelos. Fazer o que? Perdi os que tinha, ganhei uma “barriguinha” que não tinha, meu corpo também mudou. Mas enquanto eu conseguir me envolver com a vida, enquanto sentir que ela ainda me surpreende e me oferece perspectivas e aprendizagens novas, estou com o meu espírito jovem. Ou talvez esteja com o espírito velho. Ou talvez esteja com o meu espírito mesmo, com a idade que tenho. Mas cheio de vida. E eu acho que você já vem há um bom tempo bem envolvida com sua vida, interessada, cheia de graça. Tá certo, hoje, no seu aniversário, deu uma desanimadinha. Às vezes a gente se assusta um pouco. Mas você sabe bem que tem o espírito ainda bem serelepe...
- É. Tem razão.
- E aí, vai ter festa?
A voz da mãe já estava bem melhor.

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