sábado, 21 de dezembro de 2013

Humildade

1
Para vir a saborear tudo
Não queiras saborear nada.
Para vir a saber tudo
Não queiras saber nada de nada.
Para vir a possuir tudo
Não queiras ter nada de nada.
Para vir a ser tudo
Não queiras ser nada em nada.

2
Para chegar ao que não saboreias
Tens de ir por onde não saboreias.
Para chegar ao que não sabes
Tens de ir por onde não sabes.
Para chegar a ter o que não possuis
Tens de ir por onde não possuis.
Para chegar ao que não és
Tens de ir por onde não és.

3
Quando reparas em algo
Deixas de te arrojar ao tudo.
Para chegar de todo ao tudo
Hás-de perder-te de todo em tudo,
E quando o vieres de todo a ter
Hás-de tê-lo sem nada querer.

4
Nesta desnudez encontra o
espírito o seu descanso,
porque nada cobiçando,
nada o cansa para cima
e nada o oprime para baixo
porque está no centro da sua humildade.



FONTE: S. João da CRUZ (1542-1591) – Doutor da Igreja, “Escritos Breves – O Monte da Perfeição ou Monte Carmelo” in OBRAS COMPLETAS, Edições Carmelo [Tradução portuguesa - tradução das poesias: Fernando Melro], Marco de Canaveses – Portugal, 62005, p.126.


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