sábado, 6 de abril de 2013

DE COMO A INDÚSTRIA DO FUMO CAPTURA NOSSAS CRIANÇAS E DA COLABORAÇÃO DO GOVERNO NISSO


I

INDIFERENÇA INEXPLICÁVEL - DRÁUZIO VARELA



Para quem está habituado a genocídios, que diferença faz um crime a mais?
Em 2010, a Anvisa realizou uma série de consultas públicas sobre a conveniência de proibir a adição de aromatizantes e edulcorantes ao fumo. Na época, escrevi nesta coluna que a medida conseguia a proeza circense de ser a um só tempo corajosa e covarde.
Corajosa porque finalmente o governo federal tomava a iniciativa de enfrentar a ganância criminosa dos que adicionam ao cigarro uma parafernália de substâncias químicas, para tornar a fumaça menos aversiva ao paladar infantojuvenil.
Covarde porque não tem cabimento uma agência governamental legalmente encarregada de proteger a saúde dos brasileiros ser obrigada a consultar o público para coibir uma prática adotada com a finalidade exclusiva de induzir crianças e adolescentes à mais escravizadora das dependências de droga.
Apesar desses pesares, em março de 2012, a Anvisa publicou a resolução RDC nº 14, segundo a qual continuavam permitidos os aditivos essenciais ao processo de fabricação de cigarros, mas seriam vetados aqueles introduzidos para deixá-lo mais palatável.
Para a adaptação às novas regras foram fixados prazos generosos: 18 meses para os fabricantes e 24 meses para os comerciantes.
Essa questão é da maior relevância. Até a década de 1970 o emprego de aditivos era muito restrito; hoje são acrescentados mais de 600 deles. Perto de 10% do peso de um cigarro é composto por aditivos de efeitos mal estudados e imprevisíveis para o organismo.
Pertencem a essa categoria produtos que conferem gosto de maçã, chocolate, cravo, morango, canela, baunilha ou menta. Outros, provocam broncodilatação para que a fumaça penetre mais fundo nos pulmões. Há, ainda, os que aumentam a afinidade dos neurônios à nicotina, para viciar com mais eficiência.
O mentol, especificamente, adicionado para anestesiar as vias aéreas e diminuir a irritação causada pela fumaça, além de aumentar a permeabilidade da mucosa oral às nitrosaminas cancerígenas liberadas na combustão, é o preferido por mais de 50% das meninas e meninos que começam a fumar.
A resolução da Anvisa foi contestada pelo deputado Luiz Carlos Heinz, por meio do PDC 3034/2010, que está para ser votado em Brasília. Em síntese, o nobre representante do povo contesta a autoridade da Anvisa para legislar sobre o tema. A alegação é a ladainha de sempre: como o fumo gera riquezas para o país, qualquer tentativa de reduzir seu consumo levaria à miséria milhares de famílias empregadas no plantio.
A Advocacia Geral da União já se pronunciou a favor da legalidade constitucional do papel da Anvisa nessa questão.
Em relação ao famigerado argumento das riquezas geradas pelo fumo, vamos lembrar que o Brasil gasta mais de R$ 20 bilhões por ano apenas com o tratamento das doenças causadas por ele, enquanto arrecada em impostos menos de um terço desse valor.
Já em relação ao desemprego dos pobres lavradores --bandeira que a bancada do fumo no Congresso desfraldou até para justificar sua posição contrária à proibição de fumar em ambientes fechados--, quero dizer que, se todos os brasileiros deixassem de fumar, seriam eles os menos prejudicados, uma vez que somos o segundo maior exportador mundial.
Mais desemprego haveria entre cancerologistas, cardiologistas, pneumologistas, cirurgiões, enfermeiras, atendentes, acompanhantes de inválidos, fabricantes de respiradores, balões de oxigênio, cadeiras de rodas, motoristas de ambulâncias, coveiros e demais envolvidos nas tragédias provocadas pelo cigarro.
Reconheço que consigo entender o papel desprezível dos parlamentares que se prestam a defender os interesses da indústria. Eles o fazem por questões práticas, como os financiamentos de campanhas eleitorais ou seja lá que outro nome tenham. O que é inadmissível é a inércia do poder Executivo.
Por que o Ministério da Saúde e a própria Anvisa sequer acompanham as sessões da Câmara em que o assunto está para ser votado? Por que razão a Casa Civil se abstém de convocar a maioria que detém no Legislativo, para impedir essa afronta à saúde dos brasileiros? Além das barganhas por ministérios, qual a serventia da base aliada?


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Adicção, critérios propostos em 1990 pelo psiquiatra Aviel Goodman





Adicto, do latim addictus, designa a pessoa que sofreu prisão por dívidas. Diz respeito àquele que é dependente de algo, do qual nao consegue largar, mesmo que seja muito prejudicial a sua saúde.

Você é dependente? Responda as questões abaixo.

A. Você é incapaz de resistir aos impulsos que o impelem a ter esse tipo de comportamento?
B. Imediatamente antes do início dessa ação, você sente tensão cada vez maior?
C. Enquanto ela dura você sente prazer ou alívio?
D. Enquanto você o realiza, sente uma perda de controle?
E. Alguns elementos da síndrome duraram mais de um mês ou se repetiram por período mais longo?
F. Você se enquadra em pelo menos cinco dos nove critérios abaixo discriminados:
1) Sua mente está sempre ocupada pelo comportamento ou por sua preparação.
2) Os episódios são mais intensos e duradouros do que o inicialmente pretendido.
3) Com frequência você procura reduzir, controlar ou abandonar o comportamento.
4) Você passa muito tempo preparando os episódios, concretizando-os e se recuperando deles.
5) Com frequência você recorre a esse comportamento quando precisa cumprir obrigações profissionais, escolares ou universitárias, familiares ou sociais.
6) Atividades sociais, profissionais ou recreativas importantes são sacrificadas pelo comportamento em questão.
7) Você perpetua o comportamento, mesmo sabendo que ele causa ou agrava um problema persistente, de caráter social, financeiro, psicológico ou físico.
8) Você sente necessidade de aumentar sua intensidade ou sua frequência para obter o efeito desejado. Pouco a pouco, um comportamento de mesma intensidade vai perdendo o efeito inicial.
9) Se você não consegue realizá-lo, torna-se agitado ou irritadiço.

in, Revista viver mente & cerebro, fevereiro 2005.

José Régio



Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!




Níveis do preconceito


1. Falar mal
2. Evitar contato
3. Descriminar
4. Ataque físico
5. Eliminação

Sete fatores para a mudança de opinião:


(Baseado no livro “Mentes que mudam”, de Howard Gardner)
  

Razão: É a abordagem racional dos fundamentos, o uso da argumentação, da lógica, da retórica, que pode levar a mudança.

Pesquisa: É quando se faz a coleta de dados relevantes. Mas neste caso pressupõe-se uma abertura do espírito para que se comece a perguntar.

Ressonância: É o componente afetivo da mudança. Algo ressoa dentro de nós porque parece se aplicar ao nosso caso. Sentimos que realmente é aquilo que acontece com a gente e passamos a confiar e respeitar o que nos está sendo dito.

Redescrições representacionais: Diz respeito a nossa capacidade de ressimbolizar. Ver de outro ângulo, perceber outros sentidos. No processo educacional acontece ao apresentar algo de diferentes formas e pontos de vista.

Recursos e recompensas: São as facilidades ou dificuldades que a mudança implica.

Realidade: Mudanças da realidade podem facilitar ou dificultar a mudança. Mas por vezes resistimos a ver as mudanças ocorridas.

Resistências: Com a idade ou mesmo por temperamento desenvolvemos visões e perspectivas muito sólidas que podem dificultar a mudança.




Quanto mais emocional for nosso comprometimento com uma crença, mais difícil a mudança. Quanto mais publicamente foram expostas nossas convicções, idem. Quanto mais tendemos ao absolutismo autoritário, idem.
Mudar comportamento é diferente de mudar crenças.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Harold Bloom



“Observei certa vez que, enquanto Shakespeare nos ensina a falar com nós mesmos, Cervantes nos ensina a fala uns com os outros.”

Será porque nos ensina a rir de nós mesmos, de nossa absurda soberba? Ou nos acorda para os disparates da nossa megalomania soberbica?

Eclesiastes, 7,16.



“Não sejas justo ao excesso, nem sejas excessivamente sábio. Por que torturar-te?”

Precisamos da aprovação do outro?


Querer ser soberano, ter liberdade e independência, e querer, ao mesmo tempo, aplauso, é querer demais.

Adélia Prado

Impressionista

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

Cervantes



Operibus credit et non verbis.


Acredite nas obras, não nas palavras.